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abril 20, 2007

Esparregado de golfista

Estava a escrever uma receita, acerca de um esparregado, e cito:
Escaldar as folhas de espinafres, sem talos, em água a ferver, durante 1 minuto e escorrê-las. Cozê-las, 8 minutos, em nova água já fervente, com sal e com uma batata inteira, que se rejeita no fim.
Esquisitice? Não, apenas boa técnica. O que é melhor, imaginação mais ou menos delirante ou saber como fazer? Claro que ambas as coisas. Infelizmente, por razões bizarras, não posso dar ideia aqui da imaginação (isso é para a criatividade de cada um, não para autores de blogues, da mesma forma como ninguém ensina um poeta), mas sempre vou insistindo em que a imaginação vale relativamente pouco sem a técnica. Para quê cozer em duas águas? Para quê essa coisa esquisita da batata? Desafio os leitores a um exercício de brincadeira, e a verem a diferença.

Lembrei-me agora de uma coisa parva. Como acabei de vir de um treino de golfe e de me deliciar a ver uma bola a fazer o arco mais bonito pelo ar, lembrei-me de que a cozinha também é isto, o pequeno toque de capacidade pessoal que se junta à técnica. Diz isto quem sabe que o golfe é o único desporto que se joga até aos 80, porque é técnica e não força, porque o corpo obedece, não manda. Também as papilas obedecem, não mandam.

Já agora, também vou completar a receita do esparregado, à minha maneira. Depois de cozida a hortaliça (falei de espinafres, mas o melhor é de nabiças, com o seu toque ácido), escorre-se bem. Aquece-se azeite virgem, de 1,5º (estes 1,5º são críticos, para mim, para cozinhar, menos só para temperar a cru) e, quando se cheira que começa a evaporar, junta-se 3-4 dentes de alho pisados, com a pele interior rosada. Volteia-se muito rapidamente, durante cerca de meio minuto a lume médio-baixo e remove-se o alho. Aumenta-se o lume e junta-se a hortaliça muito bem escorrida e picada grosso, volteia-se bem e, 1 minuto depois, acrescenta-se a pasta de esparregado, já preparada: 1 cs de farinha de trigo, 1 c. café de farinha de milho, 2 cs de queijo fresco de cabra muito bem esmagado, 2 cs de nata. Aquecer a lume médio, mexendo sempre, até boa consistência e mistura homogénea (cerca de 2-3 minutos, conforme o lume). No fim, pimenta preta quanto baste, moída a fresco, e um ligeiro toque de noz moscada.

3 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

Também o xadrez se pode jogar até aos 80 ;)

20/4/07 09:28  
Anonymous Anónimo escreveu...

Que diabo de criatividade é essa que não é dado ter a autores de blogues nos quais se inclui? E que valor tem a criatividade de um cozinheiro em relação à criatividade da arte? Sabe de algum cujo nome e obra tenha sobrevivido 27 séculos? Não acha que deve ter-se noção da importância das coisas? E não lhe parece que, não se tendo essa noção, se sofre de cegueira? E que essa cegueira pode tornar-nos pequeninos e ridículos?

21/4/07 22:21  
Blogger JVC escreveu...

Não me fiz entender. O que pretendi dizer foi que a criativiadde não é matéria de blogues, no sentido de que não é coisa que se ensine. Claro que não queria criticar quem a manifesta, muito pelo contrário.

22/4/07 10:12  

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