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janeiro 23, 2007

Açordas açorianas (2)

Recordar as açordas micaelenses foi também recordar o meu pai, a quem muita vez fiz a sua simples açorda predilecta, a de cebola, coisa que o fazia perder-se em recordações de menino. Melhor do que isto, sua perdição, era quando ele adivinhava que eu lhe ia fazer uns "charrinhos" de molho de vilão, embeberados para o dia seguinte. Não há coisa mais simples do que esta açorda. Também me dizem que se faz em velhas famílias alentejanas tradicionalistas, mas o toque de diferença é o dos temperos micaelenses, bem como a manteiga em vez do azeite.
Para 4 pessoas. 1 pão rústico, 6 cs de manteiga, 4 ovos, 3 cebolas grandes, 1 tomate (facultativo), 1 cabeça de alho, sal e pimenta preta, 1 pitada de malagueta, 1 c. café de açaflor.
Refogar na manteiga a cebola às rodelas finas, o alho esmagado e picado muito grosso e o tomate picado. Acrescentar a água e os temperos e ferver muito brevemente a cebola. Escalfar os ovos. Servir para os pratos com bastante pão aos pedaços.
Mas a malagueta e a açaflor? Se nunca um amigo açoriano vos forneceu isto, usem uma ponta de pimenta da Caiena em vez da malagueta. A açaflor é que é mais complicada, porque o seu legítimo equivalente é o açafrão espanhol, de estames, coisa de milionário que não se justifica esbanjar numa açorda. Quem não tem cão caça com gato, usem o açafrão amarelo em pó, mas muito ligeiramente.

O tomate também merece nota, por eu ter escrito que era facultativo. No tempo de infância do meu pai, tomate não havia todo o ano. A açorda que a minha avó lhe fazia era às vezes com, outras sem. Lembram-se do velho ditado, "em tempo de tomate não há má cozinheira"?

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