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dezembro 06, 2006

A cerveja

Tenho com a cerveja uma relação quase religiosa. As festas do Senhor Santo Cristo eram e são as mais emblemáticas da minha ilha. Metiam muita devoção, mas também prazeres profanos. Muita coisas no arraial, os sorvetes de serrilha, os barrinhos de Vila Franca, o "cup" da quermesse queque das meninas vicentinas, mas, acima de tudo, o grande ritual de cumplicidade com o meu pai, acompanhá-lo à cervejaria à ilharga e beber o fundo da caneca. Que delícia, porque aquilo vinha temperado com sabor de pai. Vê lá se me mandas um fundo de caneca da cerveja celestial, se é que os velhos frades aí a fazem. Hoje, raramente bebo cerveja à refeição, é todo um outro ritual, principalmente de tertúlia de amigos.

Creio que não temos uma boa cultura cervejeira, embora tenhamos uma excelente tradição de cervejarias, combinando com mariscos e bifes. O que sempre conhecemos foram as cervejas banais, de baixa fermentação. Quem andou pela Bélgica e pela Alemanha sabe o que é apresentarem-nos menus de cervejas tão extensos como os nossos de vinhos. Ainda há pouco tempo, em Estocolmo, tive sempre de pedir ao barman do hotel para escolher por mim. Para meu gosto, destaco as cervejas encorpadas, de alta fermentação, as trapistes belgas, as ale inglesas, as weissbier alemãs. À parte, a inigualável Guiness, que desafia todas as classificações. Já temos de tudo isto bons exemplos nos supermercados de qualidade, é só questão de começarmos a apreciar.

No dia-a-dia, aceito as standard, Budweiss, Heineken, Tuborg, Carlsberg, claro que também a Superbock, mas não a Sagres em garrafa - questão discutível de gosto pessoal - mas é só para matar a sede estival, com amendoins. Beber com gosto, golo a golo, é outra coisa. É por isto que hoje, em Portugal, se vou cavaquear com amigos num bom bar de cervejas, só bebo duas, das nacionais, a Boémia e a Abadia. No bar da praia, sol alto, uma imperial, só para refrescar.

E conversa puxa conversa. Em qualquer cervejaria da minha terra, era muito rica a oferta de vai grátis com a cerveja: amendoins, tremoços, favas secas torradas, favas fritas, pevides de abóbora, com ou sem pele, ervilha seca torrada. Hoje, cá, só pedindo por favor. Excepção a assinalar para o Golden Gate do Funchal. Não há tremoços que se comparem.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo escreveu...

Professor, espero que não seja ousadia da minha parte estar a comentar o seu blog.
sabe, estava a organizar aulas da cadeira de Virologia e resolvi fazer um intervalo na morfologia do HIV. Bichinho chato este.
enfim, resolvi dar uma vista de olhos no site do professore incialmente a confirmar se teria todos os acetatos e acabei por dar por mim a passear por aqui.

como também adoro cozinhar resolvi entrar no blog e qual não é o meu espanto quando vejo a Cerveja.

como estudante universitária que se preze, aprecio bastante a cerveja, principalmente geladinha e tenho muito gosto em concordar consigo relativamente às cervejs Belgas e Alemãs.
Tive nestes dois países em Setembro e não há dúvida que "me deliciei"

e como não podia deixar de ser ainda trouxe três cervejinhas belgas de recordação: Morte Súbida (de 23º alcool); Bush e Red Satan (cerveja vermelha).

Vieram religiosamente guardadas na mala, "rezando" a todos os santinhos para que não se partissem no avião.

Espero que tenha gostado do meu comentário. eu gostei muito do seu blog e prometo voltar a visitar.

Cumprimentos da sua aluna de 4º ano de Ciência Farmacêuticas

Joana Valadas (sim, eu vou às suas aulas) :)

14/12/06 22:42  

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