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setembro 24, 2006

Férias em S. Miguel (VII)

Tradições culinárias esquecidas

Nas férias em S. Miguel, fui várias vezes a um restaurante de que gosto bastante, com base na cozinha regional. É pena que não possa identificar o restaurante, para não lhe causar problemas. Um dia, veio o chefe dizer-me: “hoje o senhor não escolhe da ementa. É jantar de família, foi a minha mulher que o preparou em casa, em sua honra”. Como era restaurante, combinámos o preço simbólico de 10 euros, fora as bebidas.

Tudo isto na sequência de muitas conversas anteriores, ele a dar-me razão, que a mulher sabia fazer coisas de que eu me queixava de faltarem na ementa, mas que a gente local já esqueceu e que os turistas desprezam – por exemplo, polvo, fava de taberna, torresmos de molho de fígado. Não é que eu não saiba e possa fazer e muito bem, mas comido lá é outra coisa, exaltam-se as papilas de infância com um brilho de olho nostálgico e lacrimejante. Mas negócio é negócio e não se pode exigir que um restaurador seja mecenas da cozinha regional, com perda própria.

Conversa de negócios à parte, o bichinho do meu gosto de bem comer de infância lá lhe caiu e daí o tal jantar de família, coisa que nunca esquecerei. Primeiro, umas excelentes lapas cruas. Com o defeso da captura de lapas, só se comem em S. Miguel lapas grelhadas, congeladas, vindas da Madeira. Mas ai, a lapa crua (quem sabe arranja, como se vê), rija, sabor extravagante, mais forte e rústico do que a também excelente delicadeza da ostra, misturado com sabor a mar! Pena, mas bem bom, que a minha mulher se horrorize com comer bicho cru. Mais ficou para mim.

Depois, que delícia, umas favas há tantos anos desaparecidas das ementas micaelenses. É o que ainda resta neste pais, mas com diferenças marcantes, da secular fava rica, feita com fava seca. A receita vem no meu livro. Senhora cozinheira cujo nome lamento não ter fixado: aqui fica registado o meu sincero agradecimento. Para a minha próxima ida a S. Miguel, não quero ementa no seu restaurante (aliás, uma boa ementa), só mais destes “jantares de família”, mas pagos com justiça.

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