" />

agosto 16, 2005

Férias no Alto Minho

Continuando com a crónica de férias, agora a gastronomia. Primeira nota, engordei 3 quilos em duas semanas. A Graça teve melhor sorte, no controlo da sua dieta. Apesar de ter feito alguns "dias de festa", de sarrabulho e lampreia, manteve-se ao quilo. Sobre isto, primeira observação essencial. Uma dose é prevista para duas pessoas. De facto, dá para três, com hábitos lisboetas. Muito se enfarda por aquelas terras! A gestão da encomenda de doses é bem difícil. Num dos restaurantes típicos de Pote de Lima, há um letreiro que diz" Não servimos meias doses para menos do que uma pessoa". Brutalidade minhota!

A cozinha minhota é boa mas curta. Ao fim de três dias, provei tudo: rojões, arroz de sarrabulho (não fazem lá em cima as magníficas papas de sarrabulho, mais para o Baixo Minho), bacalhau, tipicamente frito com cebolada, não dos meus maiores agrados, mas sempre óptimo bacalhau.

Há dezenas de restaurantes agradáveis em Ponte de Lima. Em duas semanas, só repetimos um, o Celeiro, por causa de um excelente polvo grelhado, com molho de azeite, cebola e salsa.

Os outros são banais, na repetição, apesar de boa cozinha. Saliento dois. Primeiro, uma tasca de petiscos, ao lado do largo principal, de que lamento não ter fixado o nome. A ementa é magnífica, em bons palavrões do Norte: fodinhas quentes, caralinhos na racha e muito mais!!!. O Henrique fotografou-a e mando-vas um dia destes. Depois, um bom restaurante, embora sem nada de especial, o Encanada.

Nota especial para o bacalhau. Sou fanático desta iguaria, mas não me atrai muito o típico bacalhau minhoto, frito com cebolada. Mas, quando o comi, reverência para a grande qualidade das postas. Sublime, o da Margarida da Praça, em Viana do Castelo. É um restaurante junto à marginal, a virar para a Av. Combatentes. Só tive um pequeno problema: a cozinheira teve um ataque de nervos, porque recebeu, de repente, quarenta encomendas!

Grande surpresa foi encontrar o Diamante Azul, já a sair de Ponte de Lima, para sul, junto ao Tribunal. Restaurante aparentemente modesto, com preços aceitáveis, propriedade de dois irmãos que trabalharam em hotelaria no Luxemburgo. Aprenderam bem. nem vale a pena dizer do que provei dos outros pratos tradicionais. Apenas referir que foi o melhor tournedo que já comi, carne de inigualável qualidade. Com o requinte de vir acompanhado por óptimas batatas dauphine.

Reservo para o fim as minhas duas grandes referências. O Carvalheira merece desvio de estrada. Sai-se de Ponte de Lima para a ponte nova para a margem direita e toma-se a seguir a estrada para Valença, cerca de dois quilómetros. A ementa parece repetitiva de tudo o que servem de alto-minhoto os outros restaurantes, mas excelentemente confeccionado e apresentado. A propósito, não me lembro de ter comido nestas férias, mesmo em tascas, em mesas que não tivessem coberta e guardanapos de pano, Um ícone da Carvalheira corresponde ao meu gosto da melhor forma de cozinhar peixe, ao vapor, com legumes e ervas a perfumar. Eles fazem-no lá com robalo, que afiançam não ser de aviário, mas sim o típico robalo do mar que vem à foz do Lima.

A outra grande surpresa foi mesmo surpresa, os Bocados, à saída de Ponte de Lima para a Escola Agrária. Quatro mesas, não sei como fazem negócio, Não há ementa, o dono, personagem muito pitoresca, vem dizer-nos que fornece o que a praça lhe dá cada dia. Por 24 €, serve-nos sete entradas e um prato de resistência, tudo da melhor qualidade e boa cozinha. Não sei se consigo recordar a ementa desse dia, sempre variável: queijo brie aquecido em excelente azeite e mel; salmão fumado com alcaparras, azeite excelente e vinagre balsâmico; mexilhões à galega, polvilhados com "salpicón"; enchidos com chèvre; espargos verdes com molho tártaro; pleurotos estufados com presunto; salada de fava tenra com enchidos. A seguir, vem o prato de substância. Nesse dia, era uma posta grelhada de boi pisco, com batatas a murro. Sublime! Grelhada no ponto certíssimo, temperada com flor de sal, pimenta preta e umas ervas em que só reconheci claramente tomilho e estragão. Podia ter comido a carne com uma colher!

Tudo isto com um bom Alvarinho e aconfortado no fim com uma excelente bacageira da casa, bem gelada. Grande Bocados! Não percam.